Prefácio: Nefastos


Autor do livro: Rochett Tavares

Prefaciador: Alfer Medeiros

Editora: Literata



Prefácio:
O Tempo e o espaço tocados pelo mundo sem nome.

“Imagine um mundo feito a partir da matéria que dá vida aos pesadelos; um reino no qual o mal governa absoluto e a perversão de qualquer lei entendida em nossa realidade por natural é a norma. Imagine um lugar onde a corrupção, a perfídia e a degradação caminham sem limite. Imagine um plano em que seus habitantes conhecem apenas dor e sofrimento, onde as nascentes vertem pus e sangue estagnado; uma dimensão de horrores inomináveis onde torres de ossos erguem-se majestosas sobre planícies de carne macilenta e intumescida”.

Este foi um trecho da definição dada por Rochett Tavares ao seu universo macabro chamado O Mundo Sem Nome. Um plano de existência à margem do nosso e de muitos outros, que devora todas as nuances de maldade e degeneração do ser humano e regurgita criaturas horrendas e promessas de glória e riquezas em nome de Thyrliath, o governante de toda essa hediondez incomensurável.

Talvez, em um primeiro momento, lhe venha à cabeça o termo “inferno”. Porém, quem já leu os trabalhos anteriores do Rochett (Criaturas e Abismo) sabe que sua obra passa ao largo de qualquer crença religiosa, apesar de termos seitas secretas e discípulos de Thyrliath a pipocar aqui e ali. Este trabalho não se prende a religiões específicas, está acima disso. Aliás, se analisarmos o conjunto contido em Nefastos, veremos que não se prende sequer a apenas um espaço, um tempo, uma realidade. Os comentários sobre cada conto deste livro deixarão isso mais claro.

Em O Ídolo de Pedra, somos levados à aurora do Homem, em um provável cenário da África, onde um pobre primata ignorante se defronta com dois dos sentimentos mais primordiais de nossa existência: o medo e a incerteza. Um conto rápido, instintivo, a respeito de sobrevivência e perpetuação do Mal. Somos também conduzidos à Inglaterra de 1930 em A Besta de Hertfordshire, palco para a brutalidade da fera do título e para as investigações de um jovem obsessivo. 

Em Os Leões de Aksum, tostaremos sob o sol escaldante do território onde hoje se encontra a Etiópia, mas que na época do conto (1885) se chamava Abissínia, em busca de misteriosas relíquias roubadas. Outro ponto de parada é o extremo norte do continente americano, na fronteira entre o Canadá e o Alasca, onde desembarcaremos no ano de 1982, em uma operação junto a um grupo especial e suas terríveis descobertas. 

Quando citei os diversos cenários tocados pelo Mundo Sem Nome, me referi não só ao espaço-tempo normal que conhecemos, mas também à realidade. Isso ficará evidente em As Anotações de Didier Foucault, onde teremos acesso a alguns apontamentos de uma Paris alternativa, onde uma grande guerra sino-asiática definiu os rumos do mundo. O clima aqui é de um noir tenebroso, que os leitores mais antigos reconhecerão prontamente, na figura do já onipresente inspetor-geral Maurice Lacroix (para alegria geral dos fãs do francês, suas aventuras serão transpostas para histórias em quadrinhos em um futuro próximo).

Assim como em Hellboy, Evil Dead, Reanimator e tantos outros, o trabalho de Rochett Tavares assume influência direta de um dos maiores mestres do horror do século XX, Howard Phillips Lovecraft. Por conta disso, os desavisados já sabem o que esperar de Nefastos: horror puro, denso, repleto de criaturas horrendas e ações hediondas, por vezes nauseantes. 

Bem-vindo à maldade infinita de Thyrliath. E não se esqueça de que ele se fortalece, cada vez mais, graças a nós pois, “Para a desgraça da espécie humana, mais uma página se cumpriu!”

0 comentários:

Postar um comentário